terça-feira, 30 de agosto de 2011

Da possivel maneira


Acordei com medo.
Com medo de ter de escrever por não poder falar.
Acordei com medo de ter de desenhar aquilo que eu quero ser.
Acordei com medo
De não poder ser o que sei ser,
Fazer o que sei fazer...
De não poder dizer o que quero dizer...

Acordei com medo
De que as pessoas não aceitassem minha postura,
De que demandassem meus atos,
Minhas palavras,
Meus desejos.

Acordei
E assustada, fiquei presa num papel.
Então, com a caneta na mão,
 Escondida,
Sem que ninguém pudesse saber,
Da possível maneira, vivi,
Mas ainda com medo...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011


Convido pessoas a entrarem no meu mundo e poucos querem entrar. Os que entram, logo saem de volta pela porta. 
Descobri que devo então melhorar o ambiente para recebe-los. 
Devo dar-lhes conforto, num ambiente cheio das mesmas cores, mas usadas de forma menos agressiva, com as mesmas imagens, mas umas mais distantes das outras e as mesmas palavras, mas com alguma outra  poesia.
Devo dar-lhes o que há de melhor em mim, o que há de mais alegre, puro e verdadeiro. Devo mostrar-lhes que podem confiar em mim. E acima de tudo, deixar claro que o meu mundo pode ser diferente, intenso e, muitas vezes, até louco, mas como disse já Oscar Wilde, "normalidade é uma ilusão imbecil e estéril".
Venham, corajosos, e ficarei feliz. Pegarei suas mãos e garanto que entraremos no mundo das SENSACOES. Porque já que elas existem, sintamos e não nos arrependeremos!

domingo, 28 de agosto de 2011

Os inimigos

É como se as vontades deles fossem ainda maiores que as minhas.
Como se a perversidade deles superasse a agressividade das minhas paixões.
Seus desejos, tão mais desequilibrados que meus medos.
E, então, a morte.
Morre-me meu sonho.
É como se, portanto, postulassem minha existência e modulassem o mal que me podem causar.
Eles sabem!

Violaram as condições do meu coração.
E me deixaram sozinha engolindo minha própria desconfiança.
E, então, a morte.
Morre-me minha libido.

A boca deles não mais fala do que seus corações estão cheios.
Seus anseios não mais privilegiariam meus receios.
E como se eu fosse somente carne e osso,
Interromperam minha (re)identidade e  reascenderam  minha brasa,
Agora queimo,
Eles sabem!

Diante dos meus olhos, usaram-me.
E , então, como se chegasse minha morte,
Porque morreu-me minha coragem,
Sozinha fico agora,
Escrevendo aos meus inimigos.

E agora lhes dizendo

Falando em mentira,
Sei que menti,
Parecendo ser só aquilo que me viram sendo.
E agora lhes dizendo,
Custam a acreditar.
Sei que menti,
Quando não lhes expliquei o que me estava acontecendo,
E agora lhes dizendo,
Custam a acreditar.
Sei também que menti,
Quando prometi melhorar,
E agora me vendo,
Custam a acreditar.
Menti,
Quando ainda embriagada,
Não me esforcei para resistir.
Deixei que vissem meu corpo intoxicado,
Minhas palavras embaralhadas,
E não lhes mostrei minha mente desesperada.
E agora, lhes dizendo,
Custam a acreditar...
Que não importa o que fui,
O que fiz,
Importa hoje,
O que estou ainda fazendo,
Só pra parecer uma pessoa normal.




Mas eles não querem acreditar.

Voar


Quem é criativo é sempre bem cheio de possibilidades.
Não me gabo por isso, não. O que vou dizer aqui não soa vantajoso pra ninguém.
Eu crio, recrio, corto, colo, pinto, desenho, apago, desenho de novo...
Isso pode ser mesmo genial, desde que não saia do papel.
Porque eu também (re)crio pessoas. Sim, elas chegam para mim como um desenho já começado. Ligue os pontos, preencha as lacunas, complete a imagem, coisas assim.
Então, em volta delas, encho de coisas que EU acredito e sonho serem verdades.
Recorto seus dizeres e pensamentos, e distribuo de volta no papel, muitas vezes, sem levar em consideração que as pessoas todas podem usar as mesmas palavras que eu, seguindo uma mesma linha pragmática e ainda assim significar coisas completamente diferentes.
Ouço suas palavras e, como criadora, faço delas a poesias que eu quiser.
Sim, encho os novos desenhados com apetrechos. Coloco-lhes capas de super-heróis e asas de anjo. Assim, podem todos eles me salvar!
Só que às vezes, também não levo em consideração que ainda que com capas e asas algumas pessoas não sabem e nem querem voar. Poucas sustentam seus novos “poderes” e não caem da idéia de que realmente são pessoas comuns.
Uso sempre minha melhor tinta, meu melhor pincel, e ainda que não pareça, a melhor e mais legitima das minhas intenções. Sim, pinto as pessoas de dourado, mas infelizmente, todos eles sabem que não são de ouro.
Alguns se aproveitam da minha criação, outros não agüentam ser tão modificados. Muitos deles correm, outros pacientemente apagam meus desenhos. Há também os que reforçam minhas linhas, que concordam comigo e que conseguem voar e os que discordam, mas tentam acreditar.
Existem os que também “criaram” em mim, os que “criaram” sem mim e os que “criaram” comigo. Mas há os racionais, que me arrancaram os lápis da mão e me fizeram ver que são todos aqueles os que (re)criei e acreditei diante da minha solidão.

domingo, 21 de agosto de 2011

Agora novos e mortos...


Quantas vezes tive de matar pessoas!
De apagá-las do meu coração.
fazê-las morrer...
Porque na verdade nunca “existiram”?
Eu tinha certeza.
Mas desvairada, estava errada!


Quantas vezes forcei-me a acreditar que logo passaria
A dor da decepção?

Quantas e quantas vezes tive de convencer-me de que a louca não era eu
E que aquelas pessoas tinham mesmo sido varridas da terra?

E por que tantas vezes precisei mudar os caminhos para não passar por seus túmulos,
O lugar onde sempre vivos estiveram?

Por que, se tantas vezes tentei arrancar o punhal do meu coração para enfiá-lo no dos outros?

Sem nenhum êxito, mantive-me ferida,
Mantive-me fingindo...,
Pressionando a faca com mais forca contra meu próprio peito,
Para que não morressem aqueles que eu ainda sonhava estarem vivos?

E por que escrevi tantos poemas sobre mortos?
E quantos desses mortos estão ainda vivos
Dentro de mim?

E quantos desses poemas são ainda lidos
Por aqueles que freneticamente matei
Para não ter que acreditar que ainda vivos me matariam se pudessem...

E NINGUEM VIU

Acordei, abri os olhos e entendi.
Ninguém, nada
O Silencio...
Cortado só pelo estranho som da minha própria respiração.
Ofegante, esforçada.
Na tentativa de nutrir meu corpo.
Ansioso, em arrepios!
Tão grande, tão forte...
E tão sozinho.

Acendo a luz...
Vivo agora num mundo.
Sem vozes,
Sem ninguém
Num mundo só meu.
Cheio de arte, cheio de sentimento.
DE DESEJO...

Ele é tão lindo...
E EU SEI DISSO!
Ele é tão criativo...
E EU SEI DISSO!
Ele é tão grande,
Tão verdadeiro...
E EU SEI DISSO!
Tão cheio de palavras e imagens,
De vontade.
Ahhh, tão incomum
E EU SEI DISSO!


Não foi criado por um deus,
Não é regido por anjos,
Não tem santos protetores,
Uma única pessoa...
E NINGUEM NOTA!

Aqui não chove.
As arvores não florescem,
Mas são como maquinas de fazer papel.
Aqui não há luz, mas há todos os tipos de cores...

À noite não tem lua pra me iluminar.
E de dia, não tem sol pra me aquecer.
Mas ele é tao lindo...
E NINGUEM SABE!

Às vezes, quando acordo,
Ali mesmo desejo que existam ao menos espíritos de paz,
Para que eu possa sentir que tenho companhia.
Gostaria que escutassem,
Para que pudessem me ouvir suspirar.

Por que não se sentam
E não me deixam mostrar o meu mundo?
Porque, juntos, nao criamos?
Está frio,
Mas...
Eu fiz coisas novas e...
Tive ideias!
Meus lápis estão apontados.
Tenho boa música!

Não, estou sozinha.
E EU SEI DISSO.
No meu mundo,
Que eu mesma desenhei,
Eu mesma colori!

E QUE NINGUEM SABE...

Mas nele, vivo agora presa a condenada a ficar sozinha pela eternidade.
Porque eu fiz um mundo...
E NINGUEM VIU.

Olha pra mim

Nem importa quão alinhados sejam seus dentes,
Se você não sabe sorrir,
Ou quão bem cuidada seja sua pele,
Se você não consegue se deliciar com o vento.


Ainda que seu esmalte seja o mais cintilante,
Para que decorar suas mãos se elas não sabem distribuir carinho?


Para quê tanta máscara para cílios,
Se seu olhos não sabem enxergar o que é realmente válido?


Para que um sapato novo e branco,
Se na lama é que mais nos divertimos?


Para que conversar sobre seu carro do ano,
Quando há milhares de pessoas querendo apenas dividir novos planos e expectativas?


Muitas vezes, parece que menti,
Enganei-os.
Ao ir à padaria de pijamas,
Ao não escovar os cabelos antes de receber uma visita,
Ao ir de tênis a um casamento,
Ou entrar na igreja de decote.


Ao não fazer as unhas todas as semanas,
Enganei-OS.


Sim, OS que me olharam e não viram que minhas mãos não cintilam,
Mas criam, tocam, sentem e acariciam.


Que nunca notaram que meus cílios são pequenos,
Mas protegem meus olhos,
Loucos para dar uma piscadela pelo vidro da janela.


Enganei os que não viram nos meus pés,
Sapatos confortáveis, e que, pela terra úmida, levaram-me aonde eu queria.


Os que não me viram pegar um ônibus, pedir uma carona,
Ou que não estavam comigo quando acreditei no sonho de alguém,
Apenas por tê-lo ouvido.


Aqueles que também não me viram sonhar.


Enganei-OS, porque nao acreditaram que SOU muito e quase não TENHO nada.


E rindo, não perco por enganá-los!

Tão



Ainda que não exista um deus,
Vou orar.
Vou pedir,
Suplicar...
Para que, um dia,
Eu ainda encontre um beijo tão macio quanto o seu,
Que se encaixe tão saborosamente no meu.
Vou rezar pra ver mãos tão macias,
Que deslizem sobre mim tão delicadamente como as suas.
Vou pedir para ser olhada por olhos como os seus,
Que, de tão atentos e sinceros, transpareçam o desejo.
Vou esperar pra ver
Uma pele tão parecida com a sua,
Que junto com a minha,
Tal brancura faça parecer um só.
Vou orar,
Orar...
Para que o riso de alguém ainda me cause tantos arrepios,
Que um abraço me leve ainda ao céu.
Vou rezar pra sentir novamente aquelas borboletas arderem no meu estômago.
Vou rezar
E desejar sentir em alguém o cheiro que sinto em você.
E ainda que o meu desejo seja só você,
Se você não voltar,
Vou rezar...
Meu Deus, vou rezar!
Existe uma gotinha de um “aroma” estranho dentro de cada um. Tão estranho, que nem nós mesmos conseguimos descobrir com cheiro de quê aquilo se parece. Esse detalhezinho da gente não pode ser mexido. Sempre que é tocado, um alarme soa e uma tempestade acontece. Nada mais é do que a nossa personalidade, nossos valores e desejos reais se manifestando.

Tudo se acalma então e, como aquele cheiro de terra molhada que a gente já conhece, depois da tempestade, a gente sente a “essência” de cada um exalando o que as pessoas realmente são...

E esse “cheirinho” , eu diria, é imutável no final das contas.