domingo, 28 de agosto de 2011

Voar


Quem é criativo é sempre bem cheio de possibilidades.
Não me gabo por isso, não. O que vou dizer aqui não soa vantajoso pra ninguém.
Eu crio, recrio, corto, colo, pinto, desenho, apago, desenho de novo...
Isso pode ser mesmo genial, desde que não saia do papel.
Porque eu também (re)crio pessoas. Sim, elas chegam para mim como um desenho já começado. Ligue os pontos, preencha as lacunas, complete a imagem, coisas assim.
Então, em volta delas, encho de coisas que EU acredito e sonho serem verdades.
Recorto seus dizeres e pensamentos, e distribuo de volta no papel, muitas vezes, sem levar em consideração que as pessoas todas podem usar as mesmas palavras que eu, seguindo uma mesma linha pragmática e ainda assim significar coisas completamente diferentes.
Ouço suas palavras e, como criadora, faço delas a poesias que eu quiser.
Sim, encho os novos desenhados com apetrechos. Coloco-lhes capas de super-heróis e asas de anjo. Assim, podem todos eles me salvar!
Só que às vezes, também não levo em consideração que ainda que com capas e asas algumas pessoas não sabem e nem querem voar. Poucas sustentam seus novos “poderes” e não caem da idéia de que realmente são pessoas comuns.
Uso sempre minha melhor tinta, meu melhor pincel, e ainda que não pareça, a melhor e mais legitima das minhas intenções. Sim, pinto as pessoas de dourado, mas infelizmente, todos eles sabem que não são de ouro.
Alguns se aproveitam da minha criação, outros não agüentam ser tão modificados. Muitos deles correm, outros pacientemente apagam meus desenhos. Há também os que reforçam minhas linhas, que concordam comigo e que conseguem voar e os que discordam, mas tentam acreditar.
Existem os que também “criaram” em mim, os que “criaram” sem mim e os que “criaram” comigo. Mas há os racionais, que me arrancaram os lápis da mão e me fizeram ver que são todos aqueles os que (re)criei e acreditei diante da minha solidão.

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